Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2025

FRANS KRAJCBERG: REENCONTRAR A ÁRVORE

Imagem
Está no MASP uma exposição diferente que me surpreendeu pela grandiosidade, originalidade, significado das obras, e pela beleza:   Frans Krajcberg: reencontrar a árvore . Krajcberg nasceu na Polônia, em 1921, de origem judaica, e perdeu toda a família na Segunda Guerra Mundial. Sobreviveu e recomeçou a vida no Brasil em 1949, naturalizando-se brasileiro em 1957. Viveu até 2017, chegando aos 96 anos, e deixou um legado que une  arte contemporânea e defesa da natureza. Ele foi pioneiro ao transformar restos de destruição em arte. Depois de ver queimadas na Amazônia, passou a recolher troncos queimados, raízes e cipós em áreas devastadas. Com esses materiais, criou esculturas, relevos, gravuras e pinturas que carregam a marca da violência contra a floresta, mas também a beleza e a resiliência da vida. Uma frase sua  resume seu ideal: "Devemos quebrar o quadrado para reencontrar a árvore."  É um convite para voltar ao essencial e repensar a relação com o planeta. A mos...

Museu Larco: Um Encerramento Instigante em Lima

Imagem
Depois de dias cheios de histórias e de trilhas por Cusco, Machu Picchu e o Vale Sagrado, cheguei a Lima para o meu último dia no Peru. Queria algo especial para fechar a viagem — e encontrei no museu Larco a combinação perfeita. Comecei pela Galeria Erótica e posso dizer que foi uma experiência única. As peças pré-colombianas tratam a sexualidade com naturalidade, como parte do ciclo da vida. Nada de vulgaridade, tudo cheio de significado e conexão com a cultura andina. Achei instigante. Depois, explorei as outras salas: ouro, prata, tecidos e cerâmicas que contam 10.000 anos de história. Tudo isso em um casarão do século XVIII, com jardins cheios de flores. Um lugar para apreciar e se apaixonar pelos detalhes. Para completar, o almoço no Café del Museo foi uma delícia. Escolhi um Lomo Saltado, acompanhado de um Pisco Sour — brinde obrigatório no Peru! E, para fechar, o doce mais tradicional: Suspiro Limeño. Um fim de viagem saboroso e histórico. O Museu Larco foi um lugar marcante. U...

O PERIGO DE ESTAR LÚCIDA - REFLEXÃO SOBRE A LEITURA

Imagem
O livro " O Perigo de estar Lúcida" , de Rosa Montero, aborda como alguns escritores produzem mais quando enfrentam alguns transtornos psicológicos — bipolaridade, esquizofrenia, depressão, alcoolismo...A autora pesquisa a biografia dessas pessoas e mostra como momentos que antecedem crises muitas vezes se tornam gatilhos de inspiração para a literatura. Durante a nossa discussão, a questão mais debatida foi: expor os problemas dos artistas é uma forma de estigmatizá-los? Na minha opinião, não. Pelo contrário, acredito que falar sobre isso ajuda por dois motivos: Incentiva a busca por tratamento e a não esconder as dificuldades. Mostra que é possível criar, evoluir e conquistar muito mesmo enfrentando esses desafios, especialmente hoje, quando os tratamentos são mais eficazes. O livro me encantou porque gosto de biografias e Rosa Montero escreve de forma envolvente e acessível, com a experiência de jornalista. É uma leitura que prende, e em muitos momentos você se identi...

A FORÇA DA ARTE TÉXTIL

Imagem
Esse capítulo do livro História da Arte sem os Homens me fascinou. Enquanto lia, lembrei de minha mãe e de minha avó, que passavam horas fazendo crochê, tricotando e bordando nossos vestidinhos para batizado, primeira comunhão e festinhas. Peças lindas para o enxoval da casa e para as ocasiões especiais de filhas e netas. Judith Scott — Inclusão na Arte Viveu grande parte da vida isolada, com síndrome de Down e surdez. Após mais de 30 anos em instituições, sua irmã gêmea conseguiu a tutela e a levou para a Califórnia, matriculando-a numa escola de arte para pessoas com deficiência intelectual. Dois anos depois, fez dos fios seu meio de expressão, criando esculturas únicas por 17 anos, até sua morte aos 61 anos. Poucas, mas significativas, suas obras já eram reconhecidas em vida e hoje são essenciais na arte contemporânea. Outras Obras e Cores na Arte Têxtil   Entre as que não trabalham com quilts: Sheila Hicks, com cascatas de cores que ocupam salas inteir as; Cecilia Vicuña, ...

TRÊS, de Valérie Perrin

Imagem
Acabei minha lição de casa do Clube de Leitura Página Duppla. Um livro grande...e maravilhoso. Três amigos, muitas histórias, traições, suspense, amores, liberdade. União e afastamento, casamento e separação, descobertas e homossexualidade. Segredos, recomeços, amadurecimento. Muitas histórias para caber nesse espaço. Envolvente. Que pena...acabou. Impossível não suspirar. A noite do bate-papo chegou —  e o esperado aconteceu: Muitas opiniões,  vozes se atropelando, o livro foi muito admirado. O encontro foi francês do começo ao fim: vinho Malbec (uva nasceu na França), quiche lorraine, tarte tartin e macarrones. Duas surpresas tornaram a noite muito especial: A primeira, um momento têxtil. Todas tiveram a oportunidade de fazer nozinhos em uma  tapeçaria coletiva, que será preenchida aos poucos nos próximos encontros.  A segunda, uma lembrancinha delicada: um marcador de livro artesanal feito pela auxiliar da Mônica — que sempre paparica todas nós com carinho. Amei e...

MEUS DIAS EM CUSCO

Imagem
Viajar para Cusco com um grupo de solteiros foi ótimo. Sempre havia companhia para explorar manhã, tarde e noite, curtindo cada detalhe — e não foram poucos.  Mais que porta de entrada para Machu Picchu , Cusco guarda uma história viva: ruas de pedras, igrejas coloniais sobre muros incas e mercados cheios de cores e aromas. Muitas construções preservam blocos de pedra de até  125 toneladas , encaixadas com precisão perfeita. A 3.400 metros de altitude, a cidade literalmente tira o fôlego . O famoso soroche só me atingiu no final, com dor de cabeça e mal-estar que passaram em um dia. Vale começar devagar e contar com aliados como chá de coca e muña — e uns remedinhos receitados pelo meu médico. Entre os destaques, visitei a belíssima Catedral , a Companhia de Jesus e o Convento Santo Domingo, construído sobre  o sagrado Templo do Sol . Nas ruas, mulheres e crianças com trajes típicos e lhamas se misturam aos turistas. Rituais e danças mantêm viva a herança inca. Quem vi...

AS AVÓS | Livro por Doris Lessing.

Imagem
Mônica nos recebeu com muito carinho em sua casa, incentivada pelo seu marido, para uma noite de cultura, bons vinhos, quitutes deliciosos, muitos papos e a cereja do bolo: o surpreendente  livro "As  Avós". Doris Lessing, autora do livro em questão, foi uma mulher à frente de sua época. Adorava ler os grandes autores o que foi contornando seu espírito rebelde. O desrespeito às regras custou-lhe a matrícula em uma escola feminina e já, aos 15 anos, saiu da casa dos pais à procura de emprego. Aprofundou suas leituras sobre política e sociologia. Publicou seu primeiro livro "A Erva Canta", logo transformado em best-seller. Seguiram-se a este, grande números de obras, tendo sido laureada com o Prêmio Nobel de Literatura, em 2007, aos 89 anos.  Lessing dizia que havia algo "abrasivo" nela mesma, que irritava as pessoas.  "Somos livres...Posso falar o que penso. Temos sorte, somos privilegiadas, então por que não usar isto?" Com essa biografia, dá par...