Fui lá, amei — mesmo sem a roupa deles.
Uma moradora nos contou que, mais tarde, haveria uma apresentação folclórica na praça. Eu e minhas amigas ficamos sentadas num café, esperando dar o horário. Era uma tarde em Gonçalves, Minas Gerais. Mas, de repente, comecei a ouvir os tambores vindo de uma rua próxima. O batuque foi se aproximando... e eu não consegui ficar parada.
Levantei e fui. Quando vi, a procissão já entrava na praça — dançando, cantando, carregando bastões e uma alegria contagiante. Era Congada. Eu nem sabia direito o que era, mas fiquei encantada. Fui chegando, curiosa, e, quando percebi, já estava no meio da roda.
Eles me abriram passagem com naturalidade, me mostraram os passos com sorrisos e gestos carinhosos. Participei de verdade. Cada um tinha um bastão. Primeiro, eu batia no chão — um som seco e forte. Depois, batia no bastão do colega ao lado ou de trás, lá no alto, acima da cabeça. Dois sons, dois gestos, um só ritmo. Entrei no ritmo deles, suando, sorrindo e amando cada momento. Uma dança viva, que mexe com o corpo inteiro.
A Congada é uma manifestação afro-brasileira que mistura cantos, danças e símbolos vindo da cultura do Cango e de Angola, junto com elementos do catolicismo popular. Os participantes formam grupos com roupas coloridas, bastões, instrumentos e coreografia que representam reis, rainhas e suas cortes. Cada passo, cada gesto, tem história. E ver isso de perto é contagiante.
Mais tarde, refletindo, me veio a dúvida: será que eu podia ter feito aquilo? Será que, por não estar com a roupa deles, não fazer parte do grupo, passei dos limites? Mas não. Eles me acolheram. Me olharam com respeito. Me incluíram naturalmente. E eu entrei com todo o cuidado, no embalo deles.
Foi assim: só eu entrei — e entrei muito animada e com todo respeito.
"Eu sou do mundo, sou Minas Gerais." — Milton Nascimento
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